Dossiê: como proteger grávidas e crianças contra mosquitos no verão
Dossiê: como proteger grávidas e crianças contra mosquitos
no verão
Mosquito da dengue, pernilongo, borrachudo: é nesta época do
ano que esses insetos costumam circular e se proliferar. E quem mais corre
risco de sofrer com as consequências das picadas são os pequenos e as
gestantes. Por isso, consultamos um time de experts para saber tudo sobre como
manter os baixinhos e as futuras mamães longe dessas perigosas agulhadas.
os últimos meses, o Brasil inteiro está de olho no Aedes
aegypti. Isso porque, além de transmitir a dengue, ele também carrega o vírus
zika, apontado como o responsável pelo surto de microcefalia que assola o país
desde outubro, em especial a região Nordeste. Sabe-se que, ao infectar uma
mulher grávida, o micro-organismo tem a capacidade de atravessar a placenta e
contaminar o sistema nervoso central do bebê, causando a malformação cerebral.
Como essa atividade do zika é inédita para os cientistas, os esforços agora se
concentram em entender o funcionamento do vírus para, no futuro, trabalhar na
criação de uma vacina. Mas até que isso aconteça, a melhor forma de se proteger
é mantendo-se longe do inseto que dissemina esse agente infeccioso.
E essa atitude é especialmente importante durante o verão,
época em que não só o Aedes aegypti mas também o pernilongo e os borrachudos
tendem a circular com maior intensidade, graças ao tempo quente e úmido.
"Os mosquitos apresentam baixo desenvolvimento sob condições extremas, como
o frio e o ar seco, pois têm a sua atividade fisiológica reduzida", revela
a bióloga Sirlei Antunes Morais, especialista em zoologia e entomologia médica
pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Por isso,
se você está esperando um bebê ou tem filhos pequenos e vive em áreas com
proliferação desses insetos, confira o dossiê que preparamos com a ajuda de
especialistas para poroteger toda a sua família na temporada de calor.
Turma da pesada
Os hábitos de cada mosquito
Aedes aegypti: o mosquito da dengue (e que também transmite
os vírus zika e chikungunya) tem hábitos diurnos, ou seja, é durante o dia que
ele costuma atacar suas vítimas.
Culex: eis o famoso pernilongo, que concentra suas
atividades no final da tarde e à noite.
Simulídeos: esse é o grupo a que pertencem os borrachudos,
que preferem circular no fim da tarde.
A picada
"Os mosquitos se posicionam sobre as áreas mais finas
da pele, pois sua visão aguçada permite enxergar a envergadura dos vasos
sanguíneos", informa Sirlei. Além disso, a espessura fina da derme
facilita a perfuração pelas estruturas bucais do inseto. Ao espetar o
indivíduo, o bichinho injeta enzimas anticoagulantes e anestésicas - daí porque
nem sentimos a picada. Isso gera uma reação no sistema imunológico, que passa a
liberar histamina, um composto que tem a função de acelerar a inativação das
substâncias introduzidas pelo mosquito. "Esse mecanismo causa uma cascata
de reações, dentre elas a coceira e o inchaço de pele", conclui a bióloga
da USP.
No geral, a picadela não ameaça a gestante e o feto - a
menos que se trate do Aedes aegypti ou de outro mosquito que transmita doenças.
O problema é que as crianças não resistem e coçam as áreas afetadas, por isso é
importante ficar atento ao risco de infecções. "O ato de coçar pode acabar
causando uma lesão. E a gente sabe que, mesmo quando a criança está limpinha,
existem bactérias na pele e nas unhas. E aí, pode infeccionar o local",
alerta o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Junior, do Hospital Infantil
Sabará, em São Paulo.
Uma vez que a grávida ou o bebê foi picado, a recomendação é
lavar com água e sabão, durante o banho mesmo. Compressas frias podem reduzir a
dor e o inchaço. "Para aliviar a coceira intensa, as gestantes podem
recorrer a cremes tópicos, como loção de calamina ou aquelas que contêm aveia
coloidal", prescreve a dermatologista Adriana Salgado, membro da Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD). No caso dos pequenos, o melhor é consultar o
pediatra - nada de aplicar medidas caseiras! "Dependendo da gravidade, o
médico pode indicar alguma pomada com corticoide ou dar um antialérgico por
boca", diz Oliveira.
Mundo dos repelentes
Princípios ativos
Piretroide: ele está presente nos repelentes de tomada e nos
inseticidas em spray. Sua ação é direta no sistema neuromotor do inseto e
também no olfato e no senso de direção. "O mosquito se afasta ao captar a
presença de 'perigo' no ar", esclarece a bióloga.
Icaridina: alguns produtos em creme ou em gel contêm essa
substância, que age confundindo o olfato do bicho e atrapalhando, assim, a
busca por sangue. "Mas os estudos sobre esse princípio ativo ainda estão
em fase de desenvolvimento no Brasil", adverte Sirlei.
DEET: é a sigla para um composto sintético chamado
dietiltoludamida, a base da maior parte dos repelentes em forma de loção.
"O DEET interfere nos receptores sensoriais dos mosquitos, inibindo os
mecanismos de atração química durante a procura por alimentação de
sangue", explica Sirlei Morais. Assim como a Icaridina, é recomendado para
os maiores de dois anos de idade.
IR 3535: trata-se de um sintético produzido a partir de
várias substâncias. Com concentração de 30%, é a única substância permitida
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para crianças acima de
seis meses. Ao lado do DEET, é considerado um dos melhores repelentes.
Os tipos
Loção
Grávidas e crianças podem, sim, passar repelente na pele.
"Os produtos de uso tópico, à base de DEET, com concentração entre 10 e
50%, são considerados seguros para as gestantes em todos os trimestres",
assegura Adriana. Quanto aos outros princípios ativos, o melhor é conversar com
o obstetra para saber a forma correta de usar.
No caso dos pequenos, vale bater um papo com o pediatra
antes de besuntar o filhote. Isso porque, de acordo com a regulamentação da
Anvisa, esses itens estão autorizados apenas para os maiores de 2 anos de idade
- inclusive as versões infantis. No entanto, dependendo da situação, pode ser
que o médico libere o produto para os mais novos. "Se a criança não é
alérgica, se ela vive em uma área em que os mosquitos circulam e se estamos em
um momento em que a probabilidade de ser picado é maior, aí a gente faz uma
avaliação do risco-benefício de indicar o repelente", pondera Oliveira.
Ele lembra que, nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria permite o
uso desses produtos em bebês a partir de 2 meses de vida. E é claro que estamos
falando das versões desenvolvidas especificamente para crianças!
Cuidados
Tanto as gestantes quanto os baixinhos devem repassar o
produto quando acabar o tempo de duração indicado no rótulo. "O número
máximo de aplicações por dia também deve ser respeitado, conforme orientação na
embalagem", pontua Adriana Salgado. O ideal é aplicá-lo em toda a área do
corpo que estará exposta. A meninada merece uma atenção extra. "Não deixe
a criança colocar o repelente sozinha e não use o produto na pele irritada ou
infeccionada", orienta o pediatra José Gabel, secretário do Departamento
de Pediatria Ambulatorial e Primeiros Cuidados da Sociedade de Pediatria de São
Paulo (SPSP). Evite também passar o creme em áreas próximas a olhos, boca,
narinas e genitais.